Está em tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais o Projeto de Lei 381/2023, que declara patrimônio histórico, cultural e imaterial do Estado a Aldravia, primeira forma de poesia brasileira, originada no município de Mariana!
Em outubro de 2000, liderado pelo poeta Gabriel Bicalho, surgiu, em Mariana, o Movimento de Arte Aldravista, por meio da criação da Associação Aldrava Letras e Artes, um movimento que se originou para a discussão e divulgação da literatura e das artes plásticas como forma de democratizar o acesso à cultura. Um dos objetivos principais do movimento é a busca pela formação literária e artística, com a produção e promoção de artes que representam as diversidades linguísticas, musicais, literárias e artísticas locais. Intelectuais de Mariana, convidados por Gabriel Bicalho, também participaram da criação do Movimento de Arte Aldravista: J.B Donadon-Leal, J.S Ferreira, Hebe Rôla, Lázaro Francisco da Silva, Luiz Tyller, Elias Layon, Arley Camillo, José Luiz Foureaux e Andreia Donadon Leal. Juntos, se propuseram à criação de um jornal literário – o Jornal Aldrava Cultural.
Jornal aldrava cultural e o surgimento da Aldravia
Entre poesias, crônicas, contos e ensaios sobre a literatura e as artes plásticas, nasceu o Jornal Aldrava Cultural, que teve a poesia como destaque em suas páginas, numa referência às personalidades que deixaram um legado na história literária de Mariana, como o Frei Santa Rita Durão, Cláudio Manuel da Costa, Severiano de Resende, Alphonsus de Guimarães, Dom Silvério, Dom Oscar de Oliveira, José Marcelino, entre outros. A edição impressa do jornal circulava não só em Mariana como também nas cidades próximas, e os poetas marianenses tornaram-se conhecidos no Estado e no Brasil devido ao grande alcance mundial da versão on-line do jornal.
Em setembro de 2010, no ápice do movimento, a Aldravia é criada, num projeto que Andreia Donadon, Gabriel Bicalho, J.B Donadon e J.S Ferreira desenvolveram para sair da dependência estrangeira de uso da forma poética e criar uma poesia genuinamente brasileira, de característica minimalista, composta por até seis versos univocabulares e que tem a metonímia - figura de linguagem ou de palavra caracterizada pela substituição de um termo por outro, havendo entre eles algum tipo de ligação - como um traço marcante. A palavra aldravia, por sua vez, é a junção dos substantivos aldrava - uma peça móvel comum em portas antigas que servia tanto para trancar quanto para bater e abrir as portas - com a palavra via, representando um caminho a ser traçado. A aldravia é reconhecida hoje como a primeira forma de poesia brasileira pela Academia Mineira de Letras, pela União Brasileira de Escritores e pelos programas de pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade Federal de Pernambuco e pelo Cefet-MG.
Entidade Cultural Aldrava Letras e Artes e Casa de Arte Aldravia
A Associação Aldrava Letras e Artes, atualmente, promove encontros literários entre os escritores para debater sobre música, artes plásticas e cultura em geral. A entidade mantém o Jornal Aldrava Cultural on-line e desenvolve conteúdos por meio da publicação de livros de aldravias, quintas, crônicas e ensaios. Os participantes mais ativos hoje são Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho, J.B Donadon-Leal, J.S Ferreira, Hebe Rôla e José Luiz Foureaux. Além desses intelectuais, a entidade tem parcerias com os mais de 100 poetas ligados à Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas e com escritores de diversas academias de Letras no Brasil e no exterior.
A Casa da Arte Aldravista, por sua vez, é um espaço dedicado para debates literários e artísticos, onde há um grande acervo do patrimônio aldravista, incluindo artes plásticas dos precursores do movimento, como Camilo Leal e Camaleão, e dos aldravistas Andreia Donadon Leal, Elias Layon e DonLeal. Tal acervo busca reunir todas as obras publicadas no Brasil e no mundo, como os livros de ensaios, catálogo atualizado de artigos, monografias, dissertações e teses sobre aldravismo ou das formas poéticas criadas pelos aldravistas. Na Casa de Arte Aldravista também é possível encontrar materiais impressos do Jornal Aldrava Cultural, bem como materiais de oficinas de poesias, artes plásticas e arteterapia.
A Aldravia como recurso didático e em projetos pedagógicos
A aldravia é utilizada como um método para ensino de leitura e de escrita em diversas escolas do país. Além dos alunos de Mariana, discentes de Itabira, Juiz de Fora, Santa Bárbara, São João Nepomuceno, Blumenau, São José dos Campos, Palmares, Rio de Janeiro e de diversos municípios do país recebem projetos que têm a aldravia como um recurso didático, incluindo projetos de literatura acessível em braille e audiodescrição. O Movimento Aldravista está presente em pelo menos quarenta unidades do sistema prisional de Minas Gerais, em projetos pedagógicos que promovem a ressocialização de detentos por meio de incentivos à leitura, à escrita criativa, à arteterapia e outras formas de expressão. Há publicações de aldravias já traduzidas para o espanhol, francês, polonês, inglês, romeno e terena.
A Aldravia ao redor do mundo
Lisboa
A Aldravia é reconhecida como forma brasileira de poesia pela Academia de Letras de Lisboa, na qual já promoveu debates literários sobre o gênero, tendo alguns de seus membros como autores de livros de Aldravias, divulgando a poesia em outros países de língua portuguesa.
Chile
No Chile, a Sociedade dos Poetas local também realizou encontros dedicados à Aldravia e a poesia, com grande divulgação no país.
França
A Divine Académie Français de Arts, em Paris, em 2012, promoveu o Encontro de Escritores Mineiros, e a partir de então a Aldravia começou a ser reconhecida e publicada na França.
Espanha
Poetas aldravistas brasileiros foram recebidos no Ateneo Cultural de Madri, em 2015, onde realizaram o lançamento de livros aldravistas e realizaram palestras sobre o gênero.
Portugal
Na Ilha da Madeira, em Portugal, a Câmara de Vereadores de Funchal homenageou os poetas aldravistas de Mariana com um diploma de destaque sobre a cultura brasileira.
A Aldravia patrimônio histórico, cultural e imaterial de Minas Gerais
Em sua justificativa, o Projeto de Lei declara, “pela consolidação da aldravia como a primeira forma minimalista de poesia genuinamente brasileira, que amplificou a abrangência do movimento aldravista de Mariana para além da promoção das artes plásticas e literárias marianenses, e pela relevância estética e científica dessa forma de poesia, este projeto propõe a declaração da aldravia como patrimônio histórico, cultural e imaterial do Estado de Minas Gerais, como forma de reconhecimento por representar inovação na área da literatura brasileira”.
Para Andreia Donadon, todo reconhecimento é sempre bem-vindo, e a primeira forma de poesia criada no Brasil, na cidade mãe de Minas, merece esse título por ser o patrimônio mais precioso de Mariana. “A aldravia é fruto da nossa cultura intelectual criativa, e não do extrativismo que caracterizou parte da história de Minas Gerais. Já nos sentimos honrados só pelo fato de haver em discussão na Assembleia Legislativa um Projeto de Lei que reconhece o valor e a relevância da aldravia para a cultura do Estado. Nós produzimos reflexões sobre os caminhos da literatura, das artes plásticas e da música, e os resultados dessas reflexões já estão nos estudos de nossas obras em monografias de conclusão de cursos em universidades, em dissertações de mestrados e teses de doutorado em diversas universidades federais”, declarou a artista.
Foto: Divulgação