Três novos livros serão lançados em Mariana no mês de fevereiro, expandindo o status da cidade como polo de produção cultural. O primeiro, “Igreja, Casa, Museu: restauro e reapropriação do Conjunto Franciscano de Mariana”, retrata a recuperação completa da Igreja de São Francisco de Assis e da Casa do Conde de Assumar, exemplares excepcionais da arquitetura colonial brasileira construídos no século 18. O processo culminou, em 2023, com a implantação do Museu de Mariana, na Casa de Assumar.
As outras duas publicações, “Manual Cores da Terra” e “Técnicas Construtivas Tradicionais”, são produtos da Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana, projeto cultural que busca a preservação do patrimônio nos âmbitos material e imaterial por meio da formação dos seus alunos em técnicas construtivas tradicionais.
O lançamento triplo acontecerá na terça-feira (25/02), às 19h, no Museu de Mariana, com entrada livre e gratuita, e contará com a presença dos autores e sessão de autógrafos.
Os livros foram idealizados e produzidos pelo Instituto Pedra, como parte das ações educativas dos respectivos projetos culturais, com apoio do BNDES e patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, além de parceria do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, da Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana, da Arquidiocese de Mariana e do Instituto Aurum.
Os Livros
Igreja, Casa, Museu: restauro e reapropriação do Conjunto Franciscano de Mariana
O livro apresenta as diferentes fases da história do conjunto arquitetônico, partindo do resgate de elementos historiográficos sobre a vida do Conde de Assumar, que governou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro entre 1717 e 1721 e teria residido onde hoje se encontra o Museu de Mariana – tese que causa debates entre historiadores.
Ainda que em caráter inconclusivo, registros históricos apontam que a edificação teria sido construída entre 1714 e 1717. Trata-se de um exemplar de um palácio setecentista que, por si só, é digno de relevante valor histórico.
Cerca de meio século mais tarde começa a ser erguida a Igreja de São Francisco de Assis, um dos principais monumentos de Mariana e da arquitetura colonial no Brasil. Projetada em 1762 pelo mestre de obras português José Pereira dos Santos e construída por seu conterrâneo José Pereira Arouca, pertence à chamada “segunda fase” da arquitetura religiosa mineira, ao substituir as construções em taipa de pilão por aquelas de técnica mais perene, como a alvenaria de pedra e cal.
Ambas as edificações foram tombadas em 1938, no início das atividades do IPHAN, inseridas no Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Mariana.
Os trabalhos de restauro empreendidos entre 2019 e 2023 suscitaram questões técnicas e metodológicas instigantes, pela realização de intervenções simultâneas em um mesmo canteiro de obras, em duas edificações que apresentavam tanto informações históricas quanto estados de conservação muito díspares, experiência que pode trazer contribuições para importantes dilemas do campo do restauro no Brasil.
Em 26 de setembro de 2023, os espaços foram entregues restaurados e foi inaugurado o Museu de Mariana, uma conquista para os marianenses.
Manual Cores da Terra: produção de tintas com pigmentos de solos
O manual tem a missão de divulgar os conhecimentos acumulados pelo projeto de pesquisa e extensão universitária Cores da Terra.
Ao longo dos anos, foram produzidos alguns materiais impressos de divulgação e capacitação reunindo conhecimentos empíricos. Depois de contribuir com pesquisas acadêmicas e sistematizar lições acumuladas por meio da interação com inúmeros atores, surgiu a necessidade de reunir os conhecimentos em uma publicação que abordasse tanto informações básicas sobre solos, quanto a descrição detalhada da técnica de produção de tintas para divulgação e capacitação profissional.
Considerando a importância de comunicar conceitos e procedimentos de forma clara, foram incluídas ilustrações em sintonia com o texto, além de alguns exemplos práticos, para auxiliar a compreensão dos cálculos e recomendações para a produção das tintas de acordo com as características de diferentes tipos de solos.
Técnicas construtivas tradicionais: um olhar para a diversidade no território de Mariana
Desde a invasão portuguesa, quando as únicas formas de abrigo conhecidas por aqui eram aquelas desenvolvidas pelos povos indígenas, os modos de construir se transformaram, recebendo influências das mais diversas e sempre se adaptando às condições impostas pelo meio para, enfim, produzir novas culturas construtivas.
As técnicas construtivas tradicionais são aquelas ligadas aos materiais de construção locais e ao saber fazer tradicional, tais como as desenvolvidas no território de Mariana neste primeiro momento e, mais adiante, transformadas pela introdução de novos materiais e influências estéticas modernizadoras trazidas para o interior do país.
A bibliografia sobre os sistemas construtivos tradicionais carece de publicações. O estabelecimento desta linha editorial é uma contribuição inaugural que se inspira no trabalho pioneiro de Sylvio de Vasconcellos em Arquitetura no Brasil: Sistemas Construtivos.
Para tanto, os arquitetos Adelaide Dias e Fernando Cardoso se debruçaram sobre o acervo vivo de Mariana e região para listar alguns dos modos de produção tradicionais que remanesceram nas edificações locais e demonstrar seus conceitos.
Foto: Divulgação