Investigações mostram que 2.645 sites ilegais de apostas avançaram com o cruzamento de dados relativos justamente à movimentação de dinheiro.
Tanto nos romances policiais quanto na vida real, bem sabem os detetives imaginários quanto os reais, “seguir o dinheiro” – ou, follow the Money, para lembrar a expressão que Hollywood ajudou a consagrar – pode ser o caminho mais direto para a elucidar um crime.
Uma lembrança que ocorre a propósito do noticiário recente, dando conta que investigações sobre nada menos que 2.645 sites ilegais de apostas avançaram com o cruzamento de dados relativos justamente à movimentação de dinheiro, inclusive para pagamentos.
“A movimentação financeira é a única forma de materializar as atividades das bets no Brasil. Todo o sistema eles conseguem colocar lá fora, mas para pagar o dinheiro, eles precisam de instituições locais”. Palavras de uma Associação Brasileira de Operadores e Provedores Internacionais de Jogos (Abrajogo), que seria a parte legalizada da jogatina que tomou conta do País.
Assim está sendo possível saber que cinco instituições financeiras possibilitam o funcionamento dos 2.645 sites ilegais e que estão fora das listas de empresas autorizadas pelo Ministério da Fazenda. Interessante ou até curioso notar que as tais cinco empresas se apresentam como startups de finanças, seja lá o que isto precisamente possa significar, e seriam sistemas de pagamentos contratados pelas bets.
Também curioso registrar que, entre os dez sistemas que mais aparecem como intermediários, um deles tem o nome de Golden Pig e que oito deles têm menos de cinco meses de existência.
Foi também seguindo a pista do dinheiro que a Abrajogo simulou transferências para sites e dessa forma chegou ao banco de destino e aos arranjos de pagamento.
Resumindo, e com uma facilidade que impressionaria a maioria dos escritores de romances policiais, foi possível, em tese, desconstruir todo o enredo, o que na prática pode significar também que os encanamentos e torneiras que irrigavam, ou irrigam, todo o sistema podem perfeitamente ser bloqueados e definitivamente fechados.
O que está sendo apresentado, é bem mais que indícios ou meras pistas. Na realidade, as autoridades têm em mãos o mapa do crime e, supõe-se, também de credibilidade incontestada. Vale dizer, para concluir este comentário, que o caminho das investigações e diligências foi bastante encurtado, tudo isso com espantosa simplicidade, restando às autoridades públicas, que também não têm como ignorar as proporções de perigo, apenas cumprir suas obrigações. Elementar, diria um famoso detetive britânico.
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