Considerado o mais importante remanescente de Mata Atlântica de Minas Gerais, abrigo de populações de espécies raras da fauna e flora, e terceiro maior complexo lacustre do Brasil, com 42 lagoas, o Parque Estadual do Rio Doce (Perd) atrai cada vez mais visitantes.
A Unidade de Conservação (UC), administrada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), também é muito procurada especialmente pela observação de aves, vertente turística que cresce na região em virtude da ocorrência da grande diversidade, mais de 400 espécies.
O gerente do Perd, Vinícius de Assis Moreira, ressalta que a unidade de conservação é singular em suas belezas. “A floresta atlântica se impõe na paisagem que abraça os lagos existentes no parque. Essa interação de água e mata proporciona visitação com trilhas guiadas e autoguiadas, banho no lago Dom Helvécio, observação de vida silvestre, visita ao viveiro de produção de mudas nativas e centro de visitantes, palestra como nosso time de guardas-parques. Esses são alguns dos serviços que o IEF presta a quem visita o parque”, disse.
A atividade de observação de aves é denominada birdwatching e está vinculada à ação conjunta da gestão da unidade de conservação com praticantes e profissionais deste segmento turístico. Por meio de cursos, produção de material impresso, “passarinhadas” e ações de divulgação, tem conseguido atrair observadores de aves de todo Brasil e do exterior.
O número de espécies encontradas no parque corresponde a 50% de todas as aves registradas em Minas Gerais e 1/5 do total de espécies registradas no Brasil. Algumas espécies são bem raras e endêmicas da região, como os bicudos (Sporophila maximiliani), espécie reencontrada após 80 anos sem registro em Minas Gerais.
Por isso, o parque tem se fortalecido como polo da atividade de observação de aves. O Projeto de Observação de Aves do Perd e Entorno é uma iniciativa da Associação de Amigos do Parque Estadual do Rio Doce – DuPERD para fomentar o turismo de observação de aves na região.
Prainha
Outra atração é a lagoa Dom Helvécio, também conhecida como prainha e que conta com estrutura de vestiário, faixa de areia, área de banho, dois píers para contemplação, cadeiras de praia e salva-vidas.
As trilhas também chamam a atenção. Atualmente, é possível percorrer duas trilhas autoguiadas, sendo a do Pescador, com trajeto de 800 metros, e a da Criança, que possui cem metros de extensão. Outras duas trilhas abertas são feitas com guias para grupos agendados: do Vinhático, com um quilômetro, e do Angico Vermelho, com 1,3 quilômetros.
No parque é permitida a pesca desembarcada, ou seja, aquela que não faz uso de embarcação para suporte à atividade. Ela pode ser praticada na lagoa Dom Helvécio para espécies exóticas como: piranha vermelha, cará-amazonas e tucunaré. Para isso, é necessário ter a Carteira de Pesca Amadora, retirada junto ao IEF. Os apetrechos permitidos para a pesca amadora são a linha de mão ou linha larga, anzol, chumbada, linha, vara ou caniço, munidos de molinete, carretilha ou similar, além de iscas artificiais ou naturais.
Diversidade
A fauna do Perd apresenta alta diversidade de espécies, muitas ameaçadas de extinção e endêmicas da Mata Atlântica. Por este motivo, o Parque foi definido como uma das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em Minas Gerais, de acordo com o Atlas para Conservação da Biodiversidade, Biodiversitas, 2005.
Um destaque é o pica-pau-dourado-grande, que está no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção Volume III Aves - 2018, na categoria em perigo.
O Atlas Biodiversitas é reconhecido pela Deliberação Normativa do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) 55, de (13/06/2002), como instrumento básico para a formulação de Políticas Públicas, por meio das informações contidas nele.
O Atlas classificou a unidade de conservação como área de importância biológica especial. Ao todo, são pelo menos 650 espécies de animais vertebrados já registrados para a área do parque, além de 83 espécies de borboletas, 81 espécies de abelhas, 98 espécies de formigas.
Além disso, a área do Parque do Rio Doce contribui de forma expressiva na manutenção da alta diversidade de estudo evolutivo e funcional dos mamíferos. Foram registradas no parque 109 espécies, sendo 22 espécies de pequenos mamíferos não-voadores (roedores e mamíferos de bolsa), 54 de morcegos e 33 de mamíferos de médio e grande porte.
O parque abriga diversas espécies ameaçadas, como a anta (Tapirus terrestris), o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o tatu-canastra (Priodontes maximus), a onça-parda (Puma concolor) e a onça-pintada (Panthera onça), além do bugio-ruivo (Alouatta guariba), do sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), da lontra (Lontra longicaudis) e felinos, como o gato-maracajá (Leopardus wiedii), gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus), jaguatirica (Leopardus pardalis) e gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi).
Importância
Desde 1993, o Perd é reconhecido como uma das zonas núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), em razão da sua importância para a conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais.
A RBMA foi a primeira unidade da Rede Mundial de Reservas da Biosfera declarada no Brasil, reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por meio do Programa O Homem e a Biosfera (MaB).
Entre as principais funções das reservas da biosfera destacam-se a conservação das paisagens, dos ecossistemas e da variabilidade genética, o desenvolvimento econômico e humano e a logística para fornecer sustentação à pesquisa, monitoramento e troca de instrução e informação.
Com relação à flora, em algumas áreas do parque já foram registrados mais de 1,5 mil indivíduos arbóreos por hectare, com árvores que ultrapassam 30 metros de altura. O Perd apresenta flora consideravelmente rica, sendo listada, ao todo, cerca de 1.420 espécies. Nas lagoas e brejos do Perd são conhecidas pelo menos 136 espécies de macrófitas aquáticas, muitas encontradas apenas nas áreas úmidas do parque.
Para o gerente do parque, os títulos internacionais ratificam a extrema importância de conservação do Parque Estadual do Rio Doce no contexto global. “O Sitio Ramsar reconhece as zonas úmidas existentes no parque como de estratégica e fundamental importância para a conservação da biodiversidade mundial. Da mesma forma, o título de reserva da biosfera, que por meio da ONU igualmente reconhece sua importância no contexto da conservação da mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados no mundo”, ressaltou.
Localização
O Parque Estadual do Rio Doce está localizado na região denominada Vale do Rio Doce, no leste mineiro, a 205 quilômetros de distância da capital mineira. A unidade de conservação possui uma área de 35.976 hectares (ha), sendo que o complexo lacustre ocupa, aproximadamente, 2.100 ha de sua área.
A unidade de conservação está próxima às cidades de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo. O acesso, a partir de Belo Horizonte, é feito através da BR-262 até o trevo de São José do Goiabal e, a partir daí, pela MG 320.
Estrutura
Por ser uma das primeiras unidades de conservação estruturadas para a visitação pelo estado de Minas, o Perd está presente, de maneira geral, no imaginário dos ecoturistas de Minas Gerais e do Brasil.
Possui estrutura completa para controle, acolhimento e hospedagem de visitantes com: portaria 24 horas, auditório para mais de cem pessoas, centro de visitantes e de treinamento, área de camping, vestiários, churrasqueiras, áreas com tanques, 15 alojamentos com suíte, casa de hóspedes institucionais, restaurante, mirante, mesas, bancos, quiosques, redários, plataformas flutuantes e sinalização nos principais pontos de visitação e vias de acessos.
O parque também oferece serviço de palestra educativa aos visitantes; agendamento de visita guiada para a sua principal trilha, a “do Vinhático”, bem como monitoramento constante de visitantes pelos colaboradores, inclusive por guarda-vidas na área de banho da prainha da lagoa Dom Helvécio.
No centro de visitantes, há exposição temática permanente que possui informações diversas sobre o parque, atributos socioambientais, histórico e contexto territorial.
O Centro de Visitantes do parque funciona das 8h às 12h, nos fins de semana e feriados, ou de terça a quinta-feira para grupos agendados. No local é possível conhecer com detalhes a história do Perd e mais a respeito da biodiversidade da unidade por meio de exposição permanente.
Visitação
O Perd está aberto todos os dias da semana das 8h às 17h, com entrada permitida até às 15h. O valor de entrada é R$20 e o pagamento deve ser feito com dinheiro em espécie. A UC recebe visitação em grupo de terça a quinta-feira.
Foto: Divulgação