A 18ª edição da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto acontece entre os dias 21 e 26 de junho na cidade histórica mineira e retoma seu eixo de programação, que é único no cenário audiovisual do país ao reunir três temáticas: História, Educação e Preservação. Cada uma delas tem um time de curadoria, que anualmente constrói caminhos de ação e reflexão em filmes, debates, masterclasses, encontros e oficinas.
Para 2023, a Temática Histórica definiu a proposta “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)”, enfatizando a presença da criação musical de artistas pretas e pretos nas trilhas sonoras e nos elencos, como personagens em ficção, documentários, videoclipes e performatividades variadas. A ideia da dupla de curadores Cleber Eduardo e Tatiana Carvalho Costa é colocar em evidência a música preta em seus contextos históricos e culturais nos séculos XX e XXI na criação e inventividade de universos populares, mostrar a herança de tradições atualizadas do passado e de outras geografias e refletir sobre a riqueza a ser preservada na relação com as imagens.
“Historicamente, a relação da música preta em ficções e documentários teve uma presença tímida no cinema brasileiro e só se ampliou de modo considerável nos últimos 25 anos, com a profusão de filmes e séries sobre diversos artistas, brancos e pretos, na grande maioria dirigidos por pessoas brancas e com o tom de biografia legitimadora como norte”, explica o curador Cleber Eduardo, que diz não ser exatamente novidade a música preta ser presente no ambiente cultural brasileiro. A questão é o caminho que ela percorreu desde o século passado até agora, com proeminência de artistas brancos, desde os astros de rádio e da chanchada e também nas trilhas sonoras, às vezes gravadas por brancos a partir de composições de autores pretos.
A curadora Tatiana Carvalho Costa aponta que a abordagem da CineOP na Temática História será a de lidar com filmes que, como tantos artistas da música preta do Brasil, proponham uma arte fabuladora, reformuladora e inventiva, tendo a música como afirmação de um modo de vida e de uma vitalidade existencial e coletiva não apenas no mundo, como também no cinema. “Optamos por intitular de ‘Música Preta no Brasil’, e não ‘Brasileira’, para não cultivar o risco dos limites da identidade nacional, de brasilidades pressupostas, dos achatamentos das experiências e traços culturais no país, assim evitando uma ideia de brasilidade aglutinadora”, destaca ela.
Homenagem | Tony Tornado
Em diálogo com a Temática História, o homenageado da 18a CineOP é o ator e cantor Tony Tornado. Mais longevo profissional das duas artes em atividade no país, Tornado – atualmente no ar na novela das 18h da Rede Globo “Amor Perfeito” – estará na Mostra para receber um tributo por sua notável trajetória. Nascido em Presidente Prudente (SP) em 1930, estabeleceu-se a partir dos anos 1960 como um dos precursores do movimento da “black music” brasileira, inspirada na luta pelos direitos civis. Logo se tornou também um dos rostos negros mais conhecidos da TV e do cinema.
“Tornado é a síntese do trabalhador da imagem, numa rara longevidade que revela a complexidade e os paradoxos da presença negra nas telas e na cultura brasileira”, diz o curador Cleber Eduardo. “Sua imagem, nas dezenas de trabalhos nos quais atuou, entrecruza as memórias de um povo e sugere muito mais do que deveriam dizer a maioria dos papéis coadjuvantes que fez com tanta dignidade”, aponta a curadora Tatiana Carvalho Costa. “Rever, por exemplo, Quilombo (1984), de Cacá Diegues (selecionado para esta homenagem), é olhar para um passado em que a representação do negro na tela se dava de cima para baixo, mesmo que o papel interpretado por ele tivesse sido de um rei e vê-lo é testemunhar um fenômeno de resiliência e reconfiguração, a exibir a força do personagem e do homem que o defende”.
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