Estudo realizado pelo Espro, organização que insere jovens no mercado de trabalho, mostra também que 59% dos entrevistados que se identificam com religiões de matriz africana já sofreram discriminação na escola ou faculdade.
Pesquisa mostra que entre os 47% dos participantes que se declararam negros, quatro em cada dez afirmam sentir ou presenciar sempre, ou muitas vezes, situações de preconceito na escola ou na faculdade. 32% dos jovens afirmam que os episódios mais frequentes ocorrem no transporte público, consultórios médicos, restaurantes, lojas ou eventos.
O superintendente executivo do Espro, Alessandro Saade, afirma que 75% dos jovens pretos admitem não dialogar ou dialogar pouco sobre diversidade no ambiente de trabalho. “Ainda teremos ambientes mais hostis do que acolhedores para eles. Isso é um alerta para que entidades formadoras e empresas tenham mais atenção com o acolhimento nos ambientes de aprendizagem e de trabalho”, conta.
A pesquisa “Diversidade Jovem”, aborda as percepções de adolescentes brasileiros sobre diversidade e desafios relacionados a temas como raça/etnia, orientação sexual, identidade de gênero, pessoas com deficiência e religião. Ao todo, foram 1.657 participantes, entre 15 e 23 anos, que são ou já foram aprendizes ou estagiários da instituição, entre os meses de setembro e outubro deste ano. 15 estados mais o Distrito Federal participaram do estudo, com destaque para participantes de São Paulo (42%), Paraná (21%), Rio de Janeiro (9%) e Rio Grande do Sul (7%).
Diversidade e inclusão
Ainda de acordo com a pesquisa, os negros são oito em cada dez jovens que estão em situação de acolhimento social e seis em cada dez são imigrantes. Isso mostra a fragilidade e necessidade da assistência social para que esta população consiga exercer sua cidadania e tenha condições de se preparar adequadamente para o convívio social e profissional, de acordo com o estudo.
Os dados também mostram que, mesmo a escola ou a faculdade sendo um ambiente com elevados índices de preconceito, 55% dos entrevistados que se declararam pretos conversam abertamente sobre diversidade nestes espaços de ensino.
Orientação sexual
33% dos adolescentes e jovens não se identificam com a cisheteronormatividade, ou seja, com os padrões pré-estabelecidos de gênero entendidos como o sexo biológico. Bissexuais somam 20%, enquanto homossexuais representam 5% do total. Assexuais e pansexuais são 2% e 4%, respectivamente.
O estudo demonstra que, para os jovens, igrejas e encontros familiares são os ambientes mais intimidadores quando o assunto é sexualidade. Para 74% dos bissexuais e 86% dos homossexuais, conversar sobre diversidade nas igrejas que frequentam não é uma alternativa. Quando estão em encontros familiares, 43% dos homossexuais e 47% dos bissexuais sempre omitem sua sexualidade.
Empatia e rodas de conversa
No levantamento do Espro, 66% dos jovens afirmaram conversar abertamente sobre diversidade com os amigos. 42% disseram fazer o mesmo na escola ou faculdade. Entretanto, muitos dizem não acreditar que a sociedade esteja pronta para aceitar as diferenças ou punir de maneira adequada a discriminação e o preconceito.
“Esta é a primeira edição de um estudo que terá periodicidade anual e que nos ajudará a entender melhor não apenas os desafios para a inclusão nos ambientes que os jovens frequentam, mas também em nossa própria instituição”, finaliza Alessandro.
Sete a cada dez jovens ouvidos afirmaram que, ao presenciar um ato de discriminação com a diversidade de algum colega, nada fariam, por não acreditar que a intervenção geraria efeito punitivo. Os mesmos 70% também afirmam que não prestariam apoio ao colega para não se expor. Quando a situação envolve o próprio indivíduo, 48% deixariam a situação de lado para não se expor.
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