Na última sexta-feira (9), após a notícia de que o Vale do Jequitinhonha pode se tornar, até o início de 2021, um dos principais produtores de lítio do mundo, 17 prefeitos da região se reuniram para discutir, em um passo à frente, as alternativas para viabilizar a criação de um parque industrial que beneficie esse minério nos municípios produtores.
Realizada na Câmara Municipal de Itinga (Vale do Jequitinhonha) a Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) participou da reunião
Ficam 75% das jazidas de lítio no município, que foram identificadas na região, em 2017, pela mineradora Sigma. A partir disso, a empresa anunciou investimentos de R$ 500 milhões no desenvolvimento de um complexo minerário em Itinga e no território vizinho de Araçuaí, onde estão os outros 25% da jazida identificada.
Itamar Resende, presidente da Sigma, participou da reunião com os prefeitos e afirmou que sua expectativa é iniciar a produção da primeira mina, em Itinga, até o início de 2021. A atividade não utilizará barragens de rejeitos, mas sim a técnica de empilhamento a seco, uma tecnologia importada da Austrália. Itamar afirmou que: “Queremos trabalhar com uma tecnologia limpa e não podemos começar de maneira errada”.
O lítio é uma matéria-prima importante para a produção de baterias para carros elétricos, celulares e tablets. A ambição dos prefeitos, no entanto, é atrair para o Vale do Jequitinhonha empresas que produzam no local essas baterias e aparelhos, evitando seguir o exemplo de outras riquezas da região que foram e são exportadas para serem beneficiadas em outros lugares, tais como os diamantes ou o granito.
O prefeito de Ponto dos Volantes e também presidente da União dos Municípios do Vale do Jequitinhonha, Leandro Santana, iniciou o encontro reivindicando uma primeira providência para viabilizar a instalação de indústrias no local: a concessão de benefícios fiscais, inclusive isenção de ICMS, pelo Estado.
Adhemar Marcos Filho, prefeito de Itinga, apresentou outra reivindicação ao Governo Federal: a construção de um gasoduto que leve energia para o futuro parque industrial.
Medidas compensatórias e descentralização industrial são cobradas por deputados
O deputado Carlos Henrique (PRB), 2º-secretário da ALMG, disse que o principal objetivo da presença da Assembleia na reunião com os prefeitos e moradores é ouvir a preocupação da população local e garantir que ela será beneficiada. O mesmo defendeu que: “Quais são as medidas compensatórias do impacto ambiental e as ações mitigadoras? Há informações de que é um mineral que pode provocar câncer. Uma das contrapartidas poderia ser a instalação de um hospital oncológico na região”.
O vice-presidente da Comissão de Assuntos Municipais da ALMG, deputado Marquinho Lemos (PT), disse ter se preocupado com a informação de que uma fábrica de baterias poderia ser instalada em Belo Horizonte. Ele mostrou preocupação com a questão ambiental e de saúde e afirmou que: “Espero que seja só um boato e que se houver alguma fábrica, que ela seja aqui”.
Itamar Resende, presidente da Sigma, negou que a exploração de lítio possa trazer riscos de câncer para a população. Ele admitiu, no entanto, contribuir para a construção de um hospital do câncer na região, desde que não haja sozinho. O mesmo cobrou: “Somos parceiros, mas não coloquem a responsabilidade sobre o Vale do Jequitinhonha em nós. E se quisermos verticalizar a produção no Vale, temos que pensar no todo. O gás tem que vir”.
No encontro, o Governo Federal foi representado pelo secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal de Oliveira, que ressaltou que a mineração pode ser feita de forma sustentável.
Ele advertiu, no entanto, que há uma necessidade de superação de condições logísticas para trazer indústrias que beneficiem o lítio no Vale do Jequitinhonha, e afirmou que: “Não sou vendedor de sonhos”.
Zé Silva (SD-MG), deputado federal, defendeu uma articulação entre políticos e instituições federais, estaduais e municipais, além da iniciativa privada, no desenvolvimento de um arranjo produtivo local que viabilize investimentos em infraestrutura e a instalação do parque industrial. Também participou da reunião o deputado federal Euclides Petersen (PSC-MG).
Os 17 prefeitos e outras autoridades presentes, ao final do evento, assinaram o Manifesto do Vale do Jequitinhonha por uma Mineração Sustentável e Responsável, que será encaminhada aos Governos Federal e Estadual.