A Audiência Pública cujo o objetivo foi tratar dos impactos gerados pelas empresas terceirizadas e mineradoras no comércio do município de Barra Longa foi realizada na última quinta-feira (02/10), presidida pelo parlamentar, Greison Anderson, reunindo moradores, empresários, comerciantes, vereadores do município e o ex-deputado Federal Duarte Jr. A Câmara Municipal de Barra Longa encaminhou ofício convidando as empresas envolvidas, mas segundo apuração, não foram respondidos e tampouco compareceram ou enviaram representantes, o que deixou os envolvidos ainda mais preocupados.
Empresários e comerciantes afirmam que a empresa Contemporânea (contrata da Fundação Renova) não concluiu com os compromissos, deixando um legado de prejuízos, demissões e transtornos na economia do município de Barra Longa. Os empresários querem apenas receber pelo serviço prestado. Eles apontam ainda que tentam contato constante com a empresa, mas não conseguem retorno e nem atendimento.
Para tanto, o principal objetivo da audiência foi buscar uma solução para o problema que persiste há anos, mas o ideal era contar com a presença dos representantes das empresas envolvidas para que juntos buscassem a esperada solução.
Em Mariana, o mesmo caso, com a mesma empresa. Hoje, alguns casos resolvidos, outros continuam sem desfecho. Segundo apuração, a Associação Comercial de Mariana tem tratado do assunto com a empresa Samarco na busca de conclusão de caso. Contudo, o fato é emblemático e implica há anos em transtornos de vários aspectos como social e econômico.
Relatos
Recebemos relatos de moradores, comerciantes, parlamentares e empresários que estão indignados com a situação, acompanhe:
“O município de Barra longa há 10 anos vive esse crime do rompimento da barragem de Fundão e são várias situações onde Barra Longa está sendo lesada e uma delas é o que vem acontecendo com os nossos comerciantes que prestaram um bom serviço para as empresas terceirizadas. Muitas dessas empresas não receberam. Essas empresas vieram até a nossa cidade e disseram que iriam contratar mão-de-obra do nosso município e não contrataram. São muitos prestadores de serviço aqui da nossa cidade que nesses 10 anos nunca conseguiram sequer trabalhar por essas empresas. Barra Longa vem sofrendo muito com essas questões entre outras. A cidade que foi a mais atingida pela lama, hoje as pessoas recebem negativas até mesmo para dar entrada no PID, essas pessoas não estão sendo aceitas. Hoje nós temos aqui dentro do nosso município Assistência Técnica a qual nós não concordamos estão querendo que a gente aceite isso enfiando goela abaixo do atingido como uma situação aonde ele não quer. Nós atingidos merecemos justiça, merecemos respeito e é isso que nós estamos buscando. Eu como vereadora, com voz parlamentar eu luto junto com tudo pra que a gente consiga chegar a uma solução pra essas pessoas que tanto fazem por nosso município.” Finaliza.
“Meu nome é Everton sou representante da empresa RBR transportes, peças e bombas sou empresário aqui na cidade de Barra longa e participei dessa audiência pública pra fortalecer meus amigos e meus colegas de profissão de trabalho na cidade que foram lesados por essas empresas que deram tantos calotes aqui na cidade e fazendo alguns amigos a perder empresas e quebrarem. Estou indignado com a situação e uma outra forma de pensar que a Fundação Renova juntamente com a Vale e BHP eles falam tanto em dar prioridade para empresas locais e o que eles fazem nunca foi isso, optam por empresas de outras cidades e não procura mão-de-obra local o discurso deles é de negligência.” Pontua.
“Meu nome é Hugo, eu sou um dos atingidos e prejudicados pela Renova, juntamente com a empresa Contemporânea. Tomei muitos prejuízos, porque eu sou representante de venda de materiais de construção. A Contemporânea, que é essa, contratada pela Renova, me deu muito prejuízo, já tem mais de ano. Eu tive que mandar funcionário embora, mudar drasticamente meu ritmo de trabalho. Ela me desestruturou. E a gente tenta de todas as formas, de todas as maneiras, entrar em contato, fazer alguma coisa para poder estar resolvendo esse problema. Não consigo, eles não respondem a gente. E é uma vergonha uma mineradora desse nível, nível mundial, fazer isso com a gente aqui na cidade, que estamos aí correndo atrás há 10 anos.” Destaca.
“Meu nome é Antônio Carlos, sou representante da classe dos taxistas de Barra Longa e a nossa classe sofreu muito no período da lama, porque nós ficamos sem acesso, sem estradas e no auge, quando a gente estava mais debilitado, sem trabalho, eles ainda colocaram carros deles (empresa) para puxar o pessoal ainda das zonas rurais e isso nos deixou no zero. Nós começamos a trabalhar por migalhas, trabalhava por mixaria mesmo. Foram muitos meses, enquanto eles estavam retirando a lama da praça, a cidade ficou impossibilitada de trafegar e isso foi prejudicando o nosso orçamento. Nós ficamos sofrendo muito. Quando a gente começou a correr atrás dos prejuízos, com eles, nas reuniões, eles pegaram e começaram a colocar os taxistas de outras cidades para prestar os serviços. Era para levar o pessoal nas reuniões em Belo Horizonte, para outros lugares. Eles não davam as viagens para a gente! Eles traziam os taxistas de Ouro Preto, Mariana e também de Belo Horizonte. Pagavam o dobro ou o triplo dos valores em relação aos nossos aqui para levar o pessoal para lá. Quando a gente pressionou, eles pegaram e ofereceram o serviço para a gente. Só que exigiram que a gente fizesse documentações que custavam valores de 5, 6, até 7 mil reais para a gente poder prestar serviço para eles. E é isso, é um desabafo de um morador da cidade sobre tudo que passamos, temos 10 anos que estamos na luta aí e até agora não conseguimos receber nada, nem eu, nem nenhum dos meus companheiros da nossa classe.” Desabafa.
Duarte Jr.
O ex-deputado federal, Duarte Jr, destacou que a Audiência Pública realizada na última quinta-feira (02/10), foi muito importante. A audiência contou com vários empresários, vários comerciantes, moradores de Barra Longa, e o que mais lhe surpreendeu foi que a própria empresa Contemporânea, que já tinha dado prejuízo na cidade de Mariana, é a mesma empresa que está dando prejuízo em Barra Longa.
“Cadê o tal Compliance? Como é que pode uma coisa dessa? A Vale e a BHP, que causaram esse rompimento, que criaram a Fundação Renova, colocaram empresas em Barra Longa para dar prejuízo ao empresariado local? Eles não tiveram coragem de responder o ofício da Câmara Municipal de Barra Longa? Não tiveram coragem de mandar um único representante para conversar com os empresários? E isso está acontecendo há alguns anos. Eles simplesmente estão ignorando a situação dos empresários locais. A Renova, junto com a Vale e a BHP, eles são responsáveis. Eles têm que ir no contrato, que no último pagamento vão conferir se naquela cidade foram feitos os pagamentos que deveriam. Isso já ocorreu na cidade de Mariana, e em Mariana eles pagaram os empresários. Agora em Barra Longa, não. O empresário tem que quebrar, igual tem empresário lá que está quebrado. Tem que fechar a porta. Agora a gente não vai se calar, não. A gente vai continuar cobrando, vamos fazer uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Nós vamos entrar com ação judicial, sim, contra a Renova, Vale e BHP. Por mais que são empresários pequenos, e nós estamos falando das duas maiores mineradoras do mundo, esses empresários têm que ser respeitados. É um absurdo o que está acontecendo em Barra Longa. Falta de respeito com o empresariado local.” Relata Duarte.
O Panfletu´s questionou as empresas citadas e aguarda posicionamento.
A empresa Samarco emitou nota de posicionamento, confira:
"A Samarco reconhece a relevância das preocupações apresentadas por comerciantes e prestadores de serviços de Barra Longa. No que se refere a contratos firmados entre empresas privadas, estes são regidos por responsabilidades próprias, cabendo exclusivamente às partes que realizaram o acordo comercial a condução de seus compromissos.
Ainda assim, a Samarco mantém-se disponível para dialogar e apoiar as lideranças locais, sempre dentro dos limites de suas atribuições legais, reafirmando o compromisso da empresa com o desenvolvimento e a reparação da região."
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