Faço parte da turma que tem aplaudido o influenciador Felca pela denúncia de exploração sexual infantil, sobre o processo de adultização na infância e adolescência. Muito didática a maneira como ele mostra de que forma os algoritmos das plataformas alimentam a rede de pedofilia que, por sua vez, se comunica livremente por meio de códigos. Tem só um detalhe: nada do que ele disse é novidade —mas foi preciso um homem para que as mulheres fossem ouvidas.
Falamos, falamos, falamos. Todos os dias, toda hora, sobre sexualização, objetificação, exposição, adultização; principalmente de meninas, os maiores alvos de violência sexual. A influenciadora Sheylli Caleffi, por exemplo, há anos se debruça sobre o assunto. Um vídeo dela de fevereiro de 2023 teve certo alcance, deixou algumas mães apavoradas, mas não demorou muito para que todo mundo voltasse a postar a fotinha da Valentina na banheira. Fofo aos olhos da maioria, mas o olhar de um pedófilo enxerga muito além.
"Redes sociais não são álbum de foto. São espaços de comércio, tudo que está lá pode ser vendido." Não é preciso que o conteúdo compartilhado tenha qualquer sinal de erotização, o que o transforma em potencial material pornográfico é o uso criminoso feito dele. Mesmo sem querer, pais se tornam cúmplices de redes de pedofilia. A maioria faz de conta que não é com eles —são os outros os que negligenciam a proteção dos filhos, que os exploram ou os expõem. Não é difícil entender: crianças não devem ter fotos nas redes. Nenhuma.
Assim como adolescentes influenciadores não deveriam existir, como falei em maio. É meio caminho para que se tornem adultos disfuncionais, pela inserção num universo que a maioria não tem condições psicológicas para enfrentar. E, nesse caso, não são apenas os pais que lucram com a exposição: marcas se associam a menores para vender produtos inúteis para outros menores.
Enfim, nós, mulheres, falamos, escrevemos, denunciamos, mas bastou um homem para que o assunto fosse levado a sério. Mesmo assim, obrigada, Felca.
Foto: Divulgação