Monitoramento do CDC americano indica maior acesso a diagnósticos; em 2000, proporção era de 1 a cada 150.
Novo levantamento do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americano, divulgado nesta terça-feira (15/04) e publicado nesta quarta (16/04), mostra mais um aumento na taxa de crianças identificadas como autistas em 2022 em comparação ao levantamento de 2020.
O último indicador mostra que 1 a cada 31 crianças de 8 anos foi identificada como autista pelo sistema de saúde ou educacional americano em 2022 (prevalência de 32,2 em 1.000 crianças).
Essa proporção vem crescendo nas últimas décadas: era 1 para cada 150 crianças em 2000, 1 a cada 88 crianças em 2008, 1 a cada 59 em 2014, 1 a cada 44 em 2018 e 1 a cada 36 em 2020.
O levantamento do CDC monitora duas faixas etárias em 16 pontos nos Estados Unidos, então não é uma proporção nacional, mas dá indícios interessantes sobre como esta taxa ainda tende a crescer -- e não por uma "epidemia de autismo", como alguns sugerem, mas por maior capacidade de diagnósticos de TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Entre os pontos analisados, Laredo (uma cidade no Texas) registrou a menor prevalência (9,7 em cada 1.000 crianças) enquanto que a Califórnia registrou uma prevalência de 53,1.
O próprio CDC, que vem sendo alvo de negacionistas de vacinas alçados à cúpula da Saúde no governo de Donald Trump, aponta não para um evento catastrófico que tem tornado mais crianças autistas na Califórnia. Mas simplesmente para uma melhor e mais eficiente rede de diagnósticos.
"As diferenças na prevalência de crianças identificadas com TEA entre as comunidades podem ser devidas a diferenças na disponibilidade de serviços para detecção e avaliação precoces e práticas diagnósticas. Por exemplo, a Califórnia apresentou a maior prevalência entre crianças de 4 e 8 anos desde que aderiu à Rede ADDM [para monitoramento de autismo e atrasos no desenvolvimento] em 2018 e conta com uma iniciativa local (...) [em que] centenas de pediatras locais foram treinados para rastrear e encaminhar crianças para avaliação o mais precocemente possível, o que pode resultar em maior identificação de TEA, especialmente em idades precoces", diz o estudo do CDC publicado nesta quarta.
Outro ponto que o CDC identificou como relevante para um maior número de diagnósticos na rede foi acesso à cobertura de saúde para terapias para crianças (caso citado da Pensilvânia).
O estudo vem num momento relevante no cenário americano. Na semana passada, o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., criticado como um cético de vacinas, prometeu que, "até setembro, saberemos o que causou a epidemia de autismo e seremos capazes de eliminar essas exposições".
Fugindo do tom discriminatório, alarmista e carregado de fake news da declaração do secretário, com esse estudo, os cientistas do CDC deixaram evidentes suas opiniões sobre o que tem provocado o aumento de diagnósticos de autistas no país.
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