O trânsito de Minas Gerais teve aumento de 22,6% no número de acidentes entre 2020 e 2023, segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito. O crescimento faz com que o total de casos do ano passado, que ficou em 280.848 mil, supere os números de 2019, quando o total de sinistros chegou a 274.100. Neste Maio Amarelo, mês de conscientização para prevenção de acidentes, a marca mostra que, mesmo após a queda de casos com a pandemia de Covid-19, MG voltou a um patamar muito alto.
O número de mortes aumentou 6,8%, de 1.885 para 2.014, no mesmo período. Já a quantidade de feridos teve pico de 482.672 em 2022, mas recuou para 477.697 no ano seguinte. Ainda assim, é maior que o ano pré-pandemia, quando foram 444.349 feridos (alta de 8,6%). Os números apontam para a necessidade de políticas de prevenção, conscientização e de tratamento para quem fica ferido após acidentes.
A analista de treinamento Karina Neves Matos, de 44 anos, é um dos exemplos de vítimas. Ela sobreviveu a uma grave colisão em novembro de 2013, mas precisou se readaptar devido às consequências. Karina estava de férias, e saiu de Belo Horizonte para ir ao encontro da então namorada na cidade de Divinópolis. O trajeto foi feito debaixo de chuva fraca, no início da tarde. "O meu carro começou a derrapar, rodou, bateu no guard rail da estrada e o veículo foi cortado ao meio", comenta.
Ao procurar o celular para pedir ajuda, Karina viu que seu pé direito havia sido amputado na batida. "Eu me desesperei e queria somente sobreviver. Pedi ajuda para uma ex-namorada, que é médica, e contei com pessoas que pararam na estrada", diz. Após a chegada de socorristas, Karina foi levada de helicóptero para um hospital.
Impacto e adaptação à nova realidade
A princípio, Karina passou por cirurgia e se recuperou em alguns dias. Aos poucos, o fato de ter perdido um dos pés ficou mais claro para a paciente. Ela precisou usar uma prótese no lugar do pé amputado. O processo de adaptação ao uso do componente durou cerca de três meses. Karina procurou uma clínica da Ottobock em Belo Horizonte, empresa que produz tecnologias assistivas para pessoas com deficiência, e contou com auxílio de equipes especializadas para recuperar a autonomia.
"O primeiro mês foi mais lento. Quando coloquei a prótese pela primeira vez me imaginei como uma criança: ao mesmo tempo foi um momento de independência e emoção, mas tive medo, porque é um equipamento que não faz parte do nosso corpo. Mas com a ajuda de fisioterapeutas pude me adaptar, adquirindo segurança aos poucos", conta.
Segundo a coordenadora de fisioterapia na América Latina da Ottobock, Maria Laura Pucciarelli, é importante que uma pessoa que foi vítima desse tipo de acidente procure equipes multiprofissionais e os equipamentos mais adequados para cada caso. "A visão global e o alcance de todas as ferramentas disponíveis para o tratamento de uma pessoa com deficiência é o que garantem a maior autonomia e independência possível", explica.
A especialista diz ainda que existem algumas etapas pelas quais uma pessoa amputada passa antes de se sentir plenamente autônoma com uma prótese. "O paciente precisa primeiro preparar o membro residual (a parte do corpo que não foi amputada) para receber a prótese. É um período pré-protético, com acompanhamento do fisioterapeuta, enfaixamento, orientações e treino de equilíbrio. Depois a pessoa começa a usar o encaixe provisório, no qual é realizado o monitoramento para conforto do paciente e o treinamento de marcha e atividades de vida diária. Quando o paciente está adaptado e o membro residual estável, é confeccionado o encaixe definitivo".
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