A dança afro precisa voltar às comunidades e aos projetos sociais, ser uma disciplina, objeto de formação de professores. E precisa de uma política pública, de financiamento e reconhecimento. As reivindicações foram feitas na quarta-feira (29/11), por dançarinos, coreógrafos, estudiosos do tema e militantes do movimento negro, durante audiência da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A audiência também cumpriu um dos critérios previstos na Lei 22.858, de 2018, que trata de instituição de datas comemorativas, conforme destacou a deputada Macaé Evaristo (PT), autora do requerimento para o debate. Quando vereadora de Belo Horizonte, foi dela o projeto de criação do Dia Municipal da Dança Afro e, agora, tramita na ALMG o Projeto de Lei (PL) 555/23, também de sua autoria, para criação do dia estadual.
Os convidados foram unânimes em destacar o impacto da dança afro em suas vidas e a importância do tema ser tratado em um espaço político como o Legislativo. “Essa causa me define. A dança afro me salvou quando eu morava na rua”, resumiu Wallace Felipe Guedes Vieira, bailarino da Associação Cultural Bataka. Além do potencial dessa arte para a segurança, seus impactos na educação também foram mencionados.
“Minha vida foi dar aulas de dança afro em projetos sociais. Hoje vejo pouco isso nas comunidades, muitas vezes porque não há financiamento. Ela não se sustenta”, apontou também a pedagoga, professora e pesquisadora da dança afro Marilda da Silva Cordeiro. Ela se disse privilegiada por ainda poder viver dessa manifestação artística.
A dança afro também abriu portas para Patrícia Fonseca de Alencar, coreógrafa da Companhia Bataka, que chegou à Organização das Nações Unidas para dançar como representante de matrizes africanas.
“Cada passo é resistência, é protesto, é rompimento de barreiras. Cada movimento é uma conexão com a natureza e o divino. Nós estamos nas ruas, becos e celebrações religiosas. Mas não existe manifestação sem recursos.” Patrícia Fonseca de Alencar, Coreógrafa da Companhia Bataka. Diversidade em Minas impressiona
A diversidade da dança afro em Minas foi ressaltada pelo professor e coreógrafo Evandro dos Passos Xavier, saudado como mestre por muitos participantes da audiência. Doutorando em Dança na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ele afirmou que colegas ficam admirados com as múltiplas manifestações em Minas. “Os gestos são memórias do corpo, das procissões de Nossa Senhora do Rosário, do samba de carnaval”, pontuou.
No doutorado, Evandro aborda a trajetória de Marlene Silva, coreógrafa negra e uma das maiores referências históricas da dança afro-brasileira em Minas Gerais. Mineira, ela voltou a Belo Horizonte em meados da década de 1970, depois de iniciar carreira no Rio de Janeiro. “Ela quebrou paradigmas, levou espetáculos para os grandes teatros como o Palácio das Artes. Trouxe um discurso decolonial”, salientou Evandro.
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