Cristiani Papini, Inês Antonini, Lorena D’Arc e Regina Paula Mota apresentam a mostra "Arqueologia da Destruição" na Galeria de Arte Nello Nuno, em Ouro Preto, entre os dias 06 de abril e 06 de maio. A entrada é gratuita. As artistas partiram do desastre da barragem do Fundão, em Mariana, no ano de 2015, para criar cerâmicas, esculturas, instalações, fotografias e pinturas. Uma discussão sobre a ruína e o enfrentamento dos processos de destruição e ruptura.
A montagem da exposição em Ouro Preto simboliza a abertura de um debate sobre a cultura extrativista, perpetuada por mais de três séculos de exploração."Para nós, mais importante do que mostrar o trabalho é que ele seja um estímulo à reflexão sobre as contradições que as escolhas econômicas impõem ao meio ambiente e a nossa qualidade de vida", explica a artista Inês Antonini.
Em seu trabalho, Inês une a tradição da cerâmica oriental e a contingência do real. Os cacos da louça da avó, em si mesmo um desastre, reaparecem em pratos rústicos como traços da memória. Os derretimentos são narrativas da ação do fogo e do tempo, que ao destruírem também constroem o acaso. Lorena D’Arc apresenta uma obra refinada, em que a porcelana é também ultrajada pelo barro, que marca a passagem do tempo, da destruição e do esquecimento. Seus pequenos potes recobertos pela lama do desastre, expressam um tempo congelado, marcado pelos tons do minério e da dor.
Cristiani Papini e Regina Paula Mota enfrentam diretamente a tragédia de Mariana por meio de imagens na cerâmica, na fotografia e na pintura, deixando claras as referências nos registros reproduzidos ora em transferências sobre o barro, ou na delicada película do papel de arroz pela fotografia de Papini, que refaz no vazio o rio destruído. Seu rio modelado, apresenta no fluxo de suas ondas, a perda do brilho de suas águas puras. Na mesma vertente, os suvenires de Regina, ao invés de apresentarem paisagens bucólicas em suas superfícies, denunciam por meio de imagens turvas e relatos, a triste realidade local.
Para a artista Lorena D’Arc, a exposição é uma manifestação em memória dos que se foram, e do que se foi, uma forma de chamar atenção para nossa condutas."Perdi um parente que estava trabalhando no momento do desastre. É uma mistura de sentimentos e de indignação com o ocorrido. Em meu ponto de vista é difícil distinguir algum fato, são muitas realidades implicadas numa só. As pessoas que se foram, as famílias que perderam suas casas, a violação de suas identidades, a dor dos animais morrendo atolados, os quintais destruídos, as casas saqueadas. Há toda uma cadeia de problemas decorrentes da lama em relação ao meio ambiente. Foi desolador ver os pescadores chorando tentando salvar os peixes, é muito difícil ficar indignada sem fazer nada", comenta.
Fotos: Divulgação