A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realiza nesta quarta-feira (03/05), a partir das 14 horas, no auditório do andar SE, audiência pública para debater ações necessárias ao enfrentamento da gordofobia em Minas Gerais. O requerimento é de autoria da presidenta da Comissão, deputada Andréia de Jesus (PT).
Gordofobia é o preconceito contra pessoas gordas, consideradas inferiores, desprezíveis, doentes ou repugnantes por ser gordas. A audiência acontece uma semana após o falecimento de paciente de 38 anos no Instituto Mineiro de Obesidade (IMO), em Belo Horizonte, após a realização de procedimento estético de lipoescultura, para retirada de gordura corporal e distribuição em outras partes do corpo, com o suposto objetivo de obter “melhor contorno corporal”.
Esta é a segunda morte semelhante ocorrida no instituto em pouco mais de um ano. Lidiane Aparecida Fernandes de Oliveira, de 39 anos, teve embolia pulmonar após passar por dois procedimentos cirúrgicos, abdominoplastia e lipoaspiração, em dezembro de 2021, no IMO. O mesmo cirurgião plástico, Lucas Mendes, teria sido o responsável pelos procedimentos feitos nas duas vítimas.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou inquérito para apurar o caso. O médico já foi denunciado por homicídio culposo pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Gordofobia discrimina e impede acesso
Preconceito estrutural enraizado na sociedade brasileira, a gordofobia se manifesta de diversas formas: pela aversão ao corpo gordo; pelo medo de engordar e pelos fatores limitantes ao corpo gordo, como ser impedido de utilizar serviços e acessar espaços. Violência institucionalizada presente em todos os espaços, a gordofobia não é criminalizada como acontece com o racismo e a LGBTQIA+fobia.
Em janeiro deste ano, Vitor Augusto Marcos de Oliveira, de 25 anos, morreu na porta do Hospital Geral de Taipas, na Zona Norte de São Paulo, por ter tido o atendimento recusado em dois hospitais por falta de equipamentos para atender pessoas obesas.
Ele aguardou por mais de três horas dentro da ambulância a disponibilização de uma maca pra obeso. A família alega que houve negligência no atendimento e falta de estrutura médica.
Uma das convidadas a participar da reunião na ALMG, a filósofa, professora e pesquisadora Malu Jimenez é uma mulher gorda e ativista que estuda corporalidades gordas desde 2014.
“Percebi que mulheres gastavam muito tempo e se organizavam socialmente para o emagrecimento, que havia preocupação e demonização da gordura. Mas não havia nada no Brasil sobre esse fenômeno social. Foi então que descobri os pesquisadores que estudavam o corpo gordo nos Estados Unidos, nos chamados ‘Fat Studies’, estudos do corpo gordo”, conta.
A feminista decidiu então que era hora de levar esse debate para além dos muros da universidade. “Comecei a entender porque as pessoas me odiavam. No Doutorado, ninguém sabia o que era gordofobia. Criei então o projeto Lute Como uma Gorda, que começou como um site e se tornou o meu Doutorado e o meu livro, para debater a patologização dos corpos femininos gordos em vários âmbitos das vidas dessas mulheres”, acrescenta.
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