“Pessoas autistas devem falar por si próprias e não devem mais ser patologizadas. Precisamos acabar a crença de que a pessoa com deficiência tem de ser consertada para estar no mundo”.
Com essa fala, a adestradora de cães Adriana Torres Ferreira trouxe reflexões importantes para audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada na tarde desta quarta-feira (26/04).
O debate, que compôs a programação da Casa em abril, mês de conscientização sobre o autismo, deu destaque à necessidade das pessoas autistas falarem por si próprias, uma demanda antiga de ativistas autistas em todo o mundo. Adriana Ferreira, mulher de 50 anos, compartilhou as experiências de seu diagnóstico tardio aos 47 anos e de viver num mundo neurotípico, onde teve de fingir ser quem não era.
“Passei uma vida sem nenhuma adaptação. Tenho depressão refratária e síndrome do pânico, não porque foram doenças que vieram associadas, mas porque eu tive de me forçar a ser quem eu não era. O diagnóstico foi uma libertação", afirmou.
"Não somos complexos, nem um quebra cabeças, nem um cubo mágico. O nosso cérebro apenas funciona de forma diferente da de vocês. O mundo precisa de diversidade de mentes e de corpos. Temos o direito de existir e falar por nós mesmos, até os que não falam”. Pontua Adriana Ferreira, adestradora de cães.
Adriana Ferreira também explicou que o autismo em meninas se manifesta diferente e como, historicamente, o corpo feminino sempre foi menos estudado pela ciência, durante muito tempo foi negada a existência de mulheres autistas.
“Precisamos não de um mês de conscientização, mas sim de aceitação. Estamos aqui desde que o mundo é mundo. O problema são os neurotípicos, nós existirmos é um problema para vocês. O homem branco hétero cis quer excluir todos que não fazem parte da turma dele, para poder exercer o seu poder e ganância”, denuncia.
A estudante Nicoly Oliveira Rocha, de 15 anos, também deu seu depoimento sobre seu diagnóstico tardio e a ansiedade e a depressão que enfrenta como consequência.
“Precisei me adaptar à comunidade neurotípica e às exigências que não fazem parte do que eu penso em nome de uma suposta normalidade. Isso dói. A ideia de que o azul é a cor do autismo é excludente. Precisamos não de um mês, mas de um ano colorido, onde a pessoa autista, com TDAH e todas as neurodiversidades presentes na nossa comunidade sejam aceitas o ano inteiro”, explicou.
Defensor público e coordenador estadual da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência da Defensoria Pública de Minas Gerais, Luis Renato Braga Arêas Pinheiro enfatizou que, mesmo sendo pai de pessoa autista, não se sente à vontade para falar pelo filho.
“A pessoa com deficiência tem de falar por si. Só vamos mudar o panorama das coisas a partir do momento que elas ocuparem o espaço que é naturalmente delas”, defende.
A diretora-presidente do Centro Especializado Nossa Senhora D'Assumpção (Censa Betim), Natália Costa, ressaltou que o autismo não deve ser encarado como doença a ser curada, mas sim como uma condição.
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