Um novo estudo aponta que a Covid é um fator de risco para desenvolver as chamadas doenças metabólicas, incluindo diabetes tipo 2. O risco de ter diabetes após um quadro de infecção pelo Sars-CoV-2 pode ser até 58% maior em comparação àqueles que nunca se infectaram.
Além disso, o risco chega a ser quase três vezes maior nos indivíduos que não estavam vacinados no momento de contrair a Covid em relação aos vacinados: 74% dos diagnósticos foram em pacientes não vacinados contra 26% ocorrendo após a vacinação.
O mesmo risco cai pela metade (51%) em pessoas que estavam vacinadas no momento da infecção.
Esses são os principais resultados de uma pesquisa conduzida no Instituto Smidt do Coração do Centro Médico Cedars-Sinai, de Los Angeles (Califórnia), e que foi publicada nesta terça-feira (14/02), na revista especializada Jama Network Open.
Para avaliar o risco de diagnóstico de diabetes tipo 2 após a Covid, os pesquisadores avaliaram 23.709 adultos que tiveram pelo menos uma infecção pelo coronavírus entre março de 2020 e junho de 2022. Os participantes foram incluídos se tiveram um diagnóstico de diabetes tipo 2, hipertensão e hiperlipidemia (colesterol alto) em algum momento até 90 dias após o quadro confirmado de Covid.
Os dados foram ajustados para sexo, idade, condições preexistentes como risco cardiovascular conhecido e o momento da infecção (se foi antes ou durante a onda da ômicron).
Como resultado, a razão de risco (em inglês, odds ratio ou OR) de desenvolver diabetes após contrair a Covid foi 1,58, ou seja, 58% maior em comparação aos indivíduos não infectados. Para hipertensão e colesterol alto, a razão de risco não foi estatisticamente significativa.
Em relação ao estado atual de vacinação, a razão de risco de ter diabetes tipo 2 foi de 1,78 em não vacinados contra 1,07 em pacientes vacinados (com intervalo de confiança de 95%). A vacinação também diminuiu o risco de desenvolver hipertensão (46% menor) e colesterol alto (45% menor) nos indivíduos vacinados em relação aos não vacinados.
Para Alan Kwan, pesquisador cardiovascular no instituto e primeiro autor do estudo, apesar de trazer algumas evidências sobre o risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes após um quadro de Covid, os dados apresentados no estudo não podem ser considerados como "absolutos".
"Por ser um estudo observacional [quando são observadas as variações em uma determinada população sem que haja um grupo controle], nós hesitamos em dar taxas de razão de risco absolutas justamente porque isso vai ser relativo em relação a cada população. O que esses dados nos mostram é que claramente há um risco aumentado de novos diagnósticos pós-infecção, o que pode ser explorado em estudos futuros", disse em entrevista.
Como diabetes tipo 2 é um dos principais fatores que podem levar a doenças cardiovasculares no futuro, produzindo também um risco aumentado de desenvolver quadro agravado de Covid e outras doenças infectocontagiosas, o pesquisador lembra que a vacinação pode ajudar a reduzir esse risco, protegendo também do diagnóstico de diabetes.
"O estudo sugere assim que a vacinação contra Covid antes da infecção pode oferecer proteção também contra o risco de desenvolver diabetes tipo 2, embora os mecanismos envolvidos nessa proteção —se, por exemplo, reduzindo a ação do vírus no organismo ou bloqueando as vias de inflamação que podem gerar diabetes— ainda não foram completamente elucidados", afirmou.
No Brasil, segundo dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por inquérito Telefônico) de 2021, há 9% da população brasileira adulta convivendo com diabetes, ou pouco mais de 15 milhões de pessoas.
Como a pesquisa foi afetada durante a pandemia pelo corte de verba e pela dificuldade de acesso telefônico aos entrevistados, esse número ainda pode ser subestimado.
Segundo Kwan, esse pode ter sido também um fator que influenciou a própria pesquisa, uma vez que os dados eram coletados a partir de relatórios próprios de diagnóstico de alguma das condições metabólicas pré e pós-exposição ao coronavírus.
"Como durante a pandemia é natural que tenha ocorrido uma menor procura aos serviços médicos não emergenciais, a taxa de novos diagnósticos de diabetes, hipertensão e colesterol alto na população geral não foi avaliada, mas sim a comparação dos pacientes com Covid ou sem infecção prévia e diagnóstico de alguma dessas doenças até 90 dias após a infecção", explicou.
De acordo com ele, novos estudos podem ajudar a entender inclusive quais os mecanismos pelos quais o vírus aumenta a ocorrência de inflamações e quadro de diabetes. "Estamos ainda aprendendo mais e mais sobre os riscos de longo prazo associados à Covid, mas ainda há um longo caminho pela frente", afirmou.
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