Psicanalista Dr. René Dentz
A vida cotidiana foi intensamente acelerada nos últimos anos. Vivemos de forma intensa alguns eventos e superficial outros, sobretudo pelo número enorme de atividades que são realizadas. Não podemos negar que essa característica está relacionada ao desenvolvimento econômico e, em alguns casos, social das populações. O mundo pós-guerra foi radicalmente modificado, direcionando parte das sociedades globais para um intenso consumo. Nesse mundo, para vivenciar a rapidez e a efemeridade da vida, tudo precisava ser, de alguma maneira, descartável.
Hoje vivemos outra fase desse mesmo mundo. A fase da efemeridade ganhou novos contornos. À sociedade de consumo foi acrescida a sociedade da informação. O mundo ficou, dessa maneira, mais globalizado, próximo e o consumo pôde ganhar escala igualmente global. A consequência desse processo é a simplificação de conceitos, padronizações, para que todos pudessem entender e segui-los. O entendimento normalmente é uma boa característica humana, mas não nesse caso. Os conceitos mais simples falseiam e empobrecem a própria realidade e são delegados à apenas uma pequena parcela da população. É por esse motivo que o pressuposto fundamental de uma democracia direta é o da universalidade racional, que só pode ser propiciada pelo elevado nível do sistema educacional.
No mundo em que vivemos, há uma enorme conectividade de afetos e também de pensamentos. A circulação de ideias é propiciada, na maioria das vezes, pelas imagens. “Uma imagem vale mil palavras” se coloca hoje quase como uma verdade absoluta. Qual o problema disso? O problema está no fato de que abstraímos pouco, e raramente somos levados a pensar de forma mais crítica e reflexiva. Assim, não sabemos o porquê estamos pensando de determinada maneira, mas podemos afirmar, com certeza, que tais pensamentos não são nossos e nem temos noção de onde vieram. Somos então controlados facilmente... A maior forma de dominação é aquela proveniente das ideias. Em uma era da “pós-verdade”, onde tudo é “verdadeiro” e, ao mesmo tempo, nada o é, a razão, a democracia e a liberdade se enfraquecem.
A educação tem um papel fundamental nesse caminho. Muito tem se discutido sobre o papel do professor no processo educativo em nosso tempo. De fato, essa resposta a princípio, não é mais clara. Se o aluno pode ter acesso a todo tipo de informação, o conhecimento poderia bater à sua porta. Nesse contexto, mais do que em nenhum outro momento da história, é preciso que haja a passagem da informação ao conhecimento. Eis o papel do professor! Para isso, é preciso encontrar um bom nível de pensamento crítico. O professor precisa estudar, pesquisar, ler, escrever e debater constantemente (para tanto, é claro, faz-se necessária sua maior valorização). Só assim irá entender e acompanhar o dinâmico mundo em que vivemos. Os métodos inovadores hoje, de certa maneira, estão banalizados, basta a escola treinar seu corpo docente dentro de sua proposta pedagógica e ter clareza do que pretende. Ter professores-pesquisadores, críticos, que propiciam o conhecimento, é um trabalho árduo, mas imprescindível. Não adianta ter métodos até bem fundamentados, livros didáticos bem escritos (o que já não é muito comum na educação brasileira), se o educador não consegue aprofundar aquele conhecimento com sua bagagem de leitura e de conhecimento. Somente dessa forma poderemos caminhar em direção a uma sociedade mais crítica, racional, democrática e livre, onde todos terão o direito de pensar de forma complexa em um mundo com problemas complexos.