A taxa de desocupação subiu para 12,2% no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 1,3 ponto percentual (p.p) na comparação com o último trimestre de 2019, segundo a PNAD Contínua divulgada hoje (30) pelo IBGE. Trata-se de 1,2 milhão de pessoas a mais na fila por um emprego. O Brasil soma 12,9 milhões de desempregados. “Esse crescimento da taxa de desocupação já era esperado. O primeiro trimestre de um ano não costuma sustentar as contratações feitas no último trimestre do ano anterior. Essa alta na taxa, porém, não foi a das mais elevadas. Em 2017, por exemplo, registramos 1,7 p.p.”, disse a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, observando que na comparação com o primeiro trimestre de 2019 (12,7%), a taxa de desocupação do primeiro trimestre deste ano caiu (-0,5 p.p.).
Beringuy destaca também a queda de 2,5% no contingente da população ocupada, cerca de 2,3 milhões de pessoas. Segundo ela, foi o maior recuo de toda a série histórica e refletiu nos serviços domésticos (-6,1%), que também apresentou a maior queda da série. O recuo de 7% no emprego sem carteira assinada do setor privado também foi recorde. Emprego com carteira e o conta própria sem o CNPJ também caíram. “Ou seja, foi uma queda disseminada nas diversas formas de inserção do trabalhador, seja na condição de trabalhador formal ou informal. O movimento, contudo, foi mais acentuado entre os trabalhadores informais. Das 2,3 milhões de pessoas que deixaram o contingente de ocupados, 1,9 milhão é de trabalhadores informais”, disse a analista da pesquisa.
Com isso, a taxa de informalidade teve uma pequena variação de 41% no último trimestre de 2019 para 39,9% no primeiro trimestre deste ano, o que representa 36,8 milhões de trabalhadores. Os informais são os trabalhadores sem carteira, trabalhadores domésticos sem carteira, empregadores sem CNPJ, os conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.
Houve perdas em todas as atividades: indústria (2,6%), construção (6,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,5%), alojamento e alimentação (5,4%), outros serviços (4,1%) e serviços domésticos (5,9%).
Ainda de acordo com a pesquisa, o total de pessoas fora da força de trabalho subiu para 67,3 milhões, batendo novo recorde desde 2012. Esse grupo é composto por pessoas que não procuram trabalho, mas que não se enquadram no desalento. Os desalentados, pessoas que desistiram de procurar emprego, somaram 4,8 milhões, quadro estatisticamente estável em ambas as comparações. “A população fora da força de trabalho já vinha crescendo, e é importante lembrar que no primeiro trimestre de cada ano, essa população costuma aumentar, porque é um período de férias e muita gente interrompe a procura por trabalho”, disse Adriana Beringuy.
A analista da pesquisa não garante que as medidas de isolamento social, provocadas pela pandemia da Covid-19, doença causa pelo novo coronavírus, refletiram na taxa de desemprego do trimestre fechado em março. “Grande parte do trimestre ainda está fora desse cenário. Não posso ponderar se o impacto da pandemia foi grande ou pequeno, até porque falamos de um trimestre com movimentos sazonais, mas de fato para algumas atividades ele foi mais intenso”, comentou.
O rendimento médio real habitual (R$ 2.398) no trimestre encerrado em março ficou estável nas duas comparações. Já a massa de rendimento caiu para R$ 216,3 bilhões, quando comparada ao último trimestre de 2019, uma variação de -1,3%. Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve estabilidade na massa de rendimentos.
Coleta por telefone
Em função da pandemia de Covid-19 e seguindo as orientações do Ministério da Saúde, o IBGE interrompeu a coleta presencial de todas as pesquisas da Instituição no dia 17 de março de 2020. Desde então, foi instituído um plano de contingência para manter a realização da coleta das informações das pesquisas por telefone.
A taxa de resposta da PNAD Contínua em março de 2020 foi de 61,3% (em janeiro foi de 88,4% e fevereiro 87,9%). Frente a essa performance, foram feitas análises sobre os impactos na taxa de desocupação e rendimento médio habitual, em que não se observou aumento significativo nos coeficientes de variação, tornando viável a divulgação dos dados do primeiro trimestre de 2020.
O número do telefone de contato para alguns domicílios visitados anteriormente pelo IBGE já constava na base de dados da PNAD Contínua. Através do pareamento da lista de domicílios da pesquisa com bases de dados disponíveis no próprio Instituto e diversas ações promovidas nos 27 estados, está sendo possível obter os telefones para realização da pesquisa.
Foto: IBGE /MG - Divulgação