Uma metodologia criada pela auditora do Tribunal de Contas da União (TCU) e pesquisadora do Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), Flávia Ceccato Rodrigues da Cunha, vem ganhando destaque nacional e internacional ao oferecer uma solução inovadora para a detecção de fraudes e inconsistências em obras públicas. O método, que utiliza princípios estatísticos da Lei de Benford, evoluiu para um algoritmo capaz de analisar grandes planilhas orçamentárias e apontar indícios de sobrepreço e má gestão de recursos.
Em 2025, a iniciativa recebeu dois importantes reconhecimentos. No Brasil, passou a integrar o RankBrasil, que reúne projetos de relevância e inovação. Nos Estados Unidos, Flávia Cunha foi homenageada com o Prêmio Golden Fellow, concedido pelo livro “Descobrindo a Inteligência Existencial: Ferramentas, Insights e Implicações”, consolidando sua atuação na interface entre ciência de dados, tecnologia e controle público.
A Lei de Benford, também conhecida como Lei do Primeiro Dígito, estabelece que, em conjuntos de dados reais, determinados números aparecem com maior frequência como primeiro dígito. O número “1”, por exemplo, ocorre cerca de 30% das vezes, enquanto o “9” aparece em menos de 5%. Quando dados são manipulados ou artificialmente criados, essa distribuição tende a ser distorcida, o que permite identificar anomalias estatísticas.
“A aplicação da Lei de Benford funciona como uma peneira estatística: ela destaca pontos fora da curva e orienta o auditor a investigar onde podem estar os riscos de manipulação ou superfaturamento”, explica Flávia Cunha.
Os estudos da auditora sobre o uso da Lei de Benford em auditorias de obras públicas tiveram início em 2011, durante sua pesquisa de mestrado. Desde então, a metodologia foi aprimorada, resultando em prêmios, participações em congressos, palestras e treinamentos na área de controle e fiscalização.
Entre os reconhecimentos recebidos pela pesquisadora, nascida em Belo Horizonte, estão a menção honrosa no Prêmio SOF de Monografias, promovido pela Secretaria de Orçamento Federal e pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), em 2015, e o Prêmio Reconhe-Ser do TCU, em 2016, na categoria Ideia Inovadora.
Inicialmente aplicada em planilhas do Excel, a metodologia deu origem a um algoritmo em 2015 e, mais recentemente, foi transformada em uma ferramenta digital com uso de inteligência artificial. Desenvolvida em JavaScript, a solução é capaz de gerar relatórios automáticos e identificar inconsistências em poucos segundos.
A expectativa é que a ferramenta seja utilizada pelo Tribunal de Contas da União e por outros tribunais de contas do país. Por questões de segurança, o sistema não será disponibilizado abertamente na internet.
“Após dez anos, consegui desenvolver a ferramenta em HTML e, para isso, precisei aprender programação e utilizar inteligência artificial. O programa não ficará aberto ao público para evitar que fraudadores também se beneficiem da tecnologia. No entanto, estou disposta a compartilhar o conhecimento com órgãos da administração pública que considerem a pesquisa útil”, conclui a pesquisadora.
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