A melhoria do acesso ao tratamento das doenças crônicas de pele foi o principal tema da audiência pública realizada pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na última terça-feira (11/11). Médicos, representantes de associações de pacientes e parlamentares defenderam a contratação de mais dermatologistas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a liberação do medicamento Dupilumabe, considerado o mais eficaz no tratamento de enfermidades como dermatite atópica e urticária crônica.
A reunião, solicitada pelo deputado Doutor Wilson Batista (PSD), vice-presidente da comissão, discutiu a atualização do protocolo estadual de atendimento a essas doenças. O parlamentar é autor da Lei 25.477/2025, que criou a Política Estadual de Tratamento das Doenças Crônicas de Pele, com diretrizes para diagnóstico, acompanhamento e oferta de medicamentos pelo SUS.
“A lei foi um grande avanço, mas ainda não está sendo cumprida. Sem diagnóstico rápido, o paciente não acessa o medicamento e a doença se agrava. Precisamos garantir que o tratamento chegue de forma ágil e eficaz a quem mais precisa”, destacou Doutor Wilson Batista.
Falta de profissionais e longas filas de espera
De acordo com Luciana Carvalho, coordenadora do Ambulatório de Dermatologia do Hospital Eduardo de Menezes, Belo Horizonte concentra parte dos atendimentos especializados, também realizados na Santa Casa e no Hospital das Clínicas. Porém, a realidade é de escassez: cada uma das dez regionais do Estado conta com apenas dois a três dermatologistas.
A fila de espera para consultas chega a 30 mil pacientes, sendo 28 mil adultos e 2 mil crianças. “Precisamos mudar a visão de que o dermatologista é um profissional voltado apenas para estética. Essas doenças têm alta morbidade e demandam tratamento contínuo”, alertou.
Medicamento incorporado, mas sem financiamento
O deputado Wilson Batista informou ter solicitado informações ao Ministério da Saúde sobre o andamento da compra de medicamentos já incorporados ao SUS, como o Dupilumabe, produzido pela farmacêutica Sanofi. Segundo o parlamentar, o remédio está aprovado, mas ainda falta o financiamento para ser distribuído à rede pública.
“Vamos continuar cobrando para que o medicamento chegue de fato aos pacientes. É inaceitável que, mesmo com a incorporação, o tratamento siga inacessível”, afirmou o deputado.
Realidade dos pacientes e desafios do tratamento
A dermatologista Bárbara Nardi, do Hospital Eduardo de Menezes, ressaltou que o atendimento às doenças de pele no Estado é restrito e que, em casos graves, os pacientes precisam de internações prolongadas. “No hospital, conseguimos medicar, mas, ao saírem, muitos não conseguem continuar o tratamento, pois os remédios são caros e não estão disponíveis pelo SUS”, explicou.
Jules Cobra, diretor da Associação Brasileira de Pacientes Atópicos, Oncológicos e de Doenças Raras, destacou que adultos acima de 18 anos ainda ficam fora das políticas de atendimento público. “O Dupilumabe é o único medicamento que realmente controla as crises, mas só é liberado para crianças e adolescentes. Os adultos continuam sem acesso”, criticou.
Impactos emocionais e sociais
Além da dor física, as doenças de pele têm forte impacto psicológico e social. O imunologista Roberto Souza Lima ressaltou que o tratamento deve buscar também as causas — genéticas, ambientais e emocionais — que agravam as crises. “Não basta tratar as lesões; é preciso entender o gatilho que provoca o problema. A falta de controle gera sofrimento, insônia e depressão”, pontuou.
Michelle Diniz, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Minas Gerais, destacou que a nova lei estadual trouxe visibilidade ao tema. “Essas doenças não são apenas estéticas. Elas comprometem a qualidade de vida e merecem atenção prioritária do poder público”, afirmou.
Pacientes também relataram o impacto emocional do preconceito. Flaviane Wenceslau, que convive com dermatite atópica desde a infância, contou que as dificuldades vão além dos sintomas. “Além das crises, enfrentei olhares e comentários por causa da aparência da pele. É preciso apoio psicológico e social para enfrentar a doença e chegar ao especialista”, relatou.
Propostas e encaminhamentos
Entre as soluções discutidas na audiência estão a contratação de mais dermatologistas, o uso dos Centros Estaduais de Atenção Especializada (CEAEs) para descentralizar o atendimento e a liberação imediata do financiamento federal para garantir o fornecimento do Dupilumabe.
Ao encerrar a reunião, o deputado Doutor Wilson Batista reforçou o compromisso de seguir cobrando ações concretas.
“Nosso papel é dar voz a milhares de pacientes invisíveis para o sistema. Com profissionais, estrutura e medicamentos adequados, podemos transformar a realidade de quem convive diariamente com essas doenças”, concluiu.
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