Produzido pela Vellozia Filmes e NITRO Histórias Visuais, a obra audiovisual foi filmada em diversas localidades de Minas Gerais.
O documentário “Tempo Vário: A história da Folhinha de Mariana” conta a trajetória da Folhinha Civil e Eclesiástica da Arquidiocese de Mariana, um almanaque anual presente no cotidiano do povo mineiro há 155 anos. O calendário foi fundado em 1870 durante o pastoreio de Dom Antônio Ferreira Viçoso — sétimo Bispo de Mariana — e apresenta instruções religiosas, festas móveis, calendário litúrgico com indicação do santo do dia, época de plantio, orações, tabela do amanhecer e anoitecer, entre outros.
Produzido pela Vellozia Filmes e NITRO Histórias Visuais, a obra audiovisual foi filmada em diversas localidades de Minas Gerais, com ênfase para Mariana (MG), cidade sede da Gráfica Dom Viçoso — responsável pela impressão da Folhinha —, e Congonhas (MG) que tem uma das maiores demandas, por ser amplamente distribuída para romeiros no Jubileu de Bom Jesus de Matosinhos.
As imagens que intercalam as entrevistas retratam momentos de fé, a arquitetura barroca dos templos, a vida no campo, e são marcadas por sua própria sonoridade, realçando os locais precisamente escolhidos. Um padre rezando a Santa Missa, as badaladas dos sinos, a água caindo na horta, o vento balançando as roupas no varal, resultaram em um conjunto bem-arranjado de sons e cores que deram dinamismo ao documentário.
Ganha a atenção do espectador os depoimentos repletos de simplicidade e ricos em relatos de vida que se cruzam com as edições da Folhinha. Ao longo dos 37 minutos de tela, cada personagem apresentado preenche um papel e foi inserido no devido momento, causando uma narrativa envolvente e fluida.
Foi o caso de Eliana Elisabete da Silva, que provocou risos do público que assistiu à estreia na noite da última sexta-feira, 26 de setembro, nos jardins do Museu de Mariana, ao contar que todos os nomes de seus irmãos foram escolhidos a partir da Folhinha de Mariana, menos o dela. Na entrevista ela disse sentir-se sortuda por sair da tradição, pois teria recebido um nome nada agradável.
“Agora eu dei sorte. Eu não tenho nome da Folhinha e dou graças a Deus de ser mulher e chamar Eliana Elisabete, porque se eu fosse homem eu ia chamar Bernardino”, revelou a moradora do distrito marianense de Monsenhor Horta.
Além dos relatos de quem teve sua vida impactada pelo almanaque, o documentário traz a perspectiva de quem produz e está por trás das informações inseridas na Folhinha.
Em diversos momentos houve a aparição do Diretor da Gráfica e Editora Dom Viçoso, Padre Darci Fernandes Leão, que jogou luz no segmento do documentário que busca revelar de onde vem as previsões da Folhinha. Cria-se um tom de mistério e misticidade em torno do Lunário Perpétuo, guardado a sete chaves pelo sacerdote que pessoalmente o lê para fazer os cálculos.
Também merecem destaque as fotografias da Mariana dos anos 1950 e da antiga sede da Gráfica Dom Viçoso, que ajudam a ilustrar os momentos de retorno ao passado. Outros registros que conferiram peso e relevância ao Calendário Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana foram os textos de época de Pedro Nava e Vinícius de Moraes, apresentados com uma narração marcante.
Tempo Vário cumpre com maestria a proposta de resgatar a história desse importante patrimônio que tanto faz parte e influenciou a vida dos mineiros, em um formato aclamado para proposta. Pela relevância do assunto e forte importância cultural, o produto pode e deve ser exibido em salas de aula para as mais variadas faixas etárias sem correr o risco de não ser bem compreendido.
Por Paulo César Gouvêa/Arquidiocese de Mariana
Foto: Divulgação