A oitava Semana Dom Luciano, realizada no último dia 8 de outubro, foi marcado pela estreia do documentário dos 280 anos da Arquidiocese de Mariana e pela palestra que tratou do pastoreio de Dom Frei Manoel da Cruz, primeiro Bispo de Mariana. Com a presença sacerdotes formadores, dezenas de seminaristas e pessoas da sociedade civil, o evento ocorreu na Casa de Teologia do Seminário São José, em Mariana (MG).
“Foi uma experiência incrível, uma experiência pessoal enriquecedora, mas ao mesmo tempo desafiadora, porque contar essa história destes 280 anos é de fato uma grande responsabilidade”, expressou o jovem ao relembrar das gravações.
O produto audiovisual nasceu do desejo de registrar e partilhar a trajetória da Arquidiocese, por meio de relatos de pessoas que testemunharam a presença viva da Igreja ao longo dos quase três séculos.
Após a exibição, ocorreu a composição da mesa para a palestra intitulada “Dom Frei Manoel da Cruz: uma chamada de inspiração tridentina e civilizacional para a Episcopal Cidade de Mariana”, ministrada pela professora Patrícia Ferreira dos Santos.
O Pároco da Paróquia Santo Antônio, em Itaverava (MG), Pe. Luiz Antônio Reis Costa, iniciou as falas contextualizando o período histórico do episcopado de Dom Frei Manoel e a criação da então Diocese de Mariana. Ele destacou o rígido sistema de controle estatal que assombrou o início do pastoreio do primeiro Bispo de Mariana, na chamada Era Pombalina.
O sacerdote denominou esse período histórico como “furacão e momento dramático”, assegurando que os presentes iriam adentrar nesse período com uma guia qualificada, referindo-se a professora. Após a introdução de Pe. Luiz Antônio, a professora Patrícia agradeceu as palavras e deu continuidade, de forma mais profunda, na contextualização da Capitania de Minas Gerais do século XVIII.
Em sua fala, ela explanou que a criação da diocese se deu em um contexto de grande interesse das potências europeias pela região mineradora, considerada uma das mais cobiçadas do período colonial. Patrícia ressaltou que a escolha da sede episcopal foi debatida entre o Conselho Régio e o Conselho Ultramarino — órgãos da Coroa Portuguesa responsáveis pela administração colonial.
A professora pontuou que essa discussão começou ainda no início do ciclo do ouro, em meio às estratégias de ocupação e expansão do domínio português na América. Esse processo estava intimamente ligado ao Regime de Padroado, sistema pelo qual a Coroa portuguesa detinha o direito de nomear bispos e administrar a estrutura eclesiástica, unindo a expansão da fé à consolidação do poder político.
Ao longo da palestra também foi evidenciado a atuação de Dom Frei Manoel da Cruz, com uma trajetória exemplar desde os tempos de estudante na Universidade de Coimbra, em Portugal.
A docente destacou sua vocação educadora e o empenho em criar seminários, incentivando a formação de um clero nativo, tanto na diocese do Maranhão quanto em Mariana. Segundo ela, Dom Frei foi “escolhido a dedo” para conduzir a nova diocese e exerceu seu episcopado com firmeza e zelo pastoral, enfrentando desafios e até falsas acusações — a ponto de o governo do Rio de Janeiro tê-lo dado como morto.
Patrícia também mencionou o conteúdo da obra “O Copiador de Dom Frei Manoel da Cruz”, escrito por Monsenhor Flávio Carneiro Rodrigues, que registra aspectos marcantes do governo episcopal, como a construção do Aljube — prisão destinada a clérigos e fiéis que cometiam infrações — e a instituição de delegados visitadores encarregados de investigar delitos em nome da autoridade eclesiástica.
Em entrevista, a professora Patrícia expressou grande honra e alegria em participar da Semana Dom Luciano, e considerou a experiência muito enriquecedora e de aprendizado mútuo.
“Essa oportunidade de partilha de conhecimentos, de trocas tão importantes, de ter essa interlocução analisada, é uma oportunidade que vem valorizar e vem reforçar esse trabalho que já vem sendo realizado, de defesa, de valorização desse patrimônio da Arquidiocese de Mariana nos seus 280 anos. É uma honra muito grande estar aqui, muito obrigada”, agradeceu.
Por Paulo César Gouvêa/Arquidiocese de Mariana